É tudo tão bonito e colorido, que você termina de ver procurando o endereço da produção pra enviar seu currículo, só pra fazer parte de tudo aquilo (de alguma forma).
Pushing Daisies é a nova série da Warner que vinha sendo anunciada desde janeiro. A propaganda foi a mesma por muito tempo: um pirralhinho e seu cachorro correndo num campo verdíssimo, felicíssimos, aproveitando a mais livre juventude, quando o cachorro é atropelado por um caminhão que passa só pra fazer o estrago mesmo. O pirra fica lá, né, catatônico. Toca no cachorro, sai uma parada meio magnética do dedo dele e o cachorro simplesmente levanta e continua correndo – fosse humano, a gente esperaria até que ele dissesse um “Haa! You’ve been punked!”.

A propaganda foi passando, passando e eu ainda não entendia o que tava acontecendo, o que diabos era aquilo, e nem me dei ao trabalho de procurar, porque a Waner tinha que fingir ser amiga em algum momento e me dar um pouco mais de informação além daquilo. Aí, passou ele ressuscitando uma mosca. Depois, a mãe (a melhor morte ever). De repente, ele tava grande e fazendo carinho através de uma mão de madeira no cachorro. E sei lá por que, eu ainda guardava em mim, assim, em segredo mesmo, uma enorme vontade de ver algum episódio daquilo.
A Warner não foi amiga. E só deixei a vergonha de lado quando a Revista da Tv do Globo concedeu uma matéria de capa à série. De capa. Num jornal. Não pode ser tão bizarro assim, né? Nem li tudo. Mas procurei informações na matéria e descobri que o pirralho chama Ned e que ele descobria, quando criança, que poderia ressuscitar mortos com um toque, porém não poderia nunca mais tocá-los depois disso (foi ótima a forma como ele descobriu), que a pessoa empacotava pra sempre dessa vez. Tem mais: pra cada pessoa que ele ressuscitasse, dentro de um minuto, morria outra. Qualquer uma. E vou eu dizer que foi outra maneira fenomenal de descoberta.
Aí é que tá: Pushing Daisies é puramente fantasioso. E isso não se prende só ao enredo principal. Parece que ele é só uma linha pra dar vazão à atmosfera da série. Toda Tim Burton (eu ainda tô esperando aparecer o nome dele nos créditos). Diálogos naturais, cor forte por toda parte, narração de livro infantil, olhos arregalados e sorrisos de Amélie Poulin. E encaixa tudo tão perfeitamente, que o exagero que poderia rolar nem dá sinal.
Pensa comigo: quando a gente vê o Homem Aranha segurando um veículo de transporte inteiro com, sei lá, a ponta do dedo, fala logo “ah, cara, que ridículo”; só que ninguém falou que o fato de saírem teias dos pulsos dele é mais ridículo e improvável ainda. Isso por quê? Porque o filme inteiro tenta levar o mundo na normalidade, como se fosse nossa vida cotidiana mesmo. Agora, quando você em fantasia tudo, desde figurinos até enredo da história, passando [principalmente] por personagens, a fantasia fica... corriqueira. Normal. Fácil de engolir. E com sabor doce.